
Semana passada eu conheci Amelinha Teles. Amelinha é uma das muitas mulheres que lutou contra a ditadura militar, foi presa e torturada. Torturas que envolviam violência sexual e que envolveram seus dois filhos: Janaína, com 5 anos na época, e Edson, com 2 anos. A irmã dela, Criméia de Almeida, também militante contra a ditadura, foi presa quando estava no sétimo mês de gestação. Grávida, ela foi torturada, também com violência sexual. Seu filho, João, nasceu na prisão.
Dizia: conheci Amelinha. Ela me passou muita força e muita doçura – talvez pelo sotaque mineiro, que fez aflorar o meu; certamente pelo sorriso e pela gentileza que reservou a todas as pessoas com quem conversou aquela noite. Amelinha estava lá para falar para uma plateia de universitários, a maioria recém-entrada nos 20 anos, sobre a luta das mulheres contra a ditadura – as torturas e a violência sexual imposta por agentes da ditadura contra as mulheres e o machismo na militância de esquerda também estavam em pauta, bien sûr.
A palestra foi incrível e a resposta do público também. Pensei o quanto era maravilhoso que aqueles jovens tivessem ouvido Amelinha falar sobre aquilo tudo, a transformação que aquilo podia causar em cada uma das pessoas que a ouviram aquele dia. Saímos juntas da palestra e comentei isso com ela. “Ah sim, é muito bom mesmo falar sobre isso com eles. Eu acredito, o Brasil vai melhorar”, ela disse com um otimismo que, admito, me surpreendeu. “Até porque a gente não vai desistir, né?”, brinquei. “Ih, a gente não desiste não, não desiste mesmo”, respondeu Amelinha.
Pensei: se Amelinha passou por tudo que passou, nunca desistiu e segue lutando até hoje pela sociedade em que ela acredita, quem sou eu pra sucumbir às trevas atuais e desistir? Posso não, por ela e por todas as outras, que passaram e que virão. Podemos não.
Então pra quem hoje, como eu, se sente desolada diante dos últimos acontecimentos e das perspectivas do que vem por aí, eu mando um abraço forte com a energia boa que Amelinha me passou, que é a energia de todas as que vieram antes de nós, as que estão conosco hoje e as que ainda virão e que sabem que não existe outra vida que não uma vida de luta por aquilo em que a gente acredita. De coração, sem cinismo e sem afetação. Tamojunta e vamoquevamo, hoje e sempre.